O comércio entre Brasil e Estados Unidos fechou 2023 com queda de receita de exportação e de corrente de comércio em relação a 2022, mas a exportação industrial para os EUA somou US$ 29,9 bilhões, patamar histórico nas trocas bilaterais. A fatia de bens da indústria da transformação na pauta brasileira aos americanos subiu de 78,8% para 81% de 2022 para 2023.

A exportação industrial para os EUA cresceu 1,2% no ano passado, enquanto que os embarques totais brasileiros nesse tipo de produto caiu 2,3%. Os Estados Unidos se mantêm como o maior destino da exportação brasileira de bens da indústria de transformação, com fatia de 16,9%. Os dados foram elaborados pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) com base na divulgação oficial da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).

Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil, ressalta que a exportação industrial para todos os estados dos EUA abrange um conjunto muito diversificado de produtos, de alta e de média intensidade tecnológica, com alto valor agregado. Segundo levantamento da câmara, produtos semi-acabados de ferro ou aço, petróleo bruto, aeronaves, equipamentos de engenharia civil e ferro-gusa foram os cinco itens brasileiros mais exportados aos EUA.

Os dados mostram ainda que houve aumento em valor em cinco dos dez principais produtos brasileiros exportados aos americanos em 2023. Os EUA são o principal destino do Brasil em sete dessa lista dos dez mais vendidos.

“Temos portfólio muito diversificado e que consolida os Estados Unidos como principal mercado das vendas externas brasileiras de bens da indústria de transformação”, diz Abrão Neto. O levantamento da Amcham destaca que os semi-acabados de ferro e aço voltaram a ocupar a primeira posição na pauta exportadora aos americanos refletindo o desempenho positivo da construção civil nos EUA, que também puxou a demanda por equipamentos de engenharia, como escavadoras e carregadoras.

Fabrizio Panzini, diretor de relações governamentais da Amcham, explica que, somados, os dez principais produtos embarcados aos americanos correspondem a cerca de 54% do que o Brasil exporta aos EUA. O número, diz, mostra a diversidade em relação a outros destinos em que a pauta é mais concentrada. No caso da China, principal destino das exportações totais brasileiras, segundo dados da Secex, os dez itens mais vendidos correspondem a 93,3% do que o Brasil vende ao país asiático.

A balança comercial com os americanos fechou com déficit de US$ 1,1 bilhão, bem abaixo do saldo negativo de US$ 13,9 bilhões de 2022, um recuo de 92%. O déficit menor resultou de queda maior das importações do que das exportações. A receita de embarques aos americanos somou US$ 36,9 bilhões no ano passado, com queda de 1,5% contra 2022. A queda em valor da exportação aos americanos, ressalta Abrão Neto, foi resultado principalmente da redução de 9% nos preços médios em 2023 contra o ano anterior. O volume exportado, diz, foi recorde, com alta de 8,2% no ano passado.

Para 2024, diz Abrão Neto, a expectativa preliminar é de estabilização de preços internacionais e comércio bilateral com crescimento “moderado” tanto nas exportações quanto nas importações. Isso, diz, considera expectativa de crescimento tanto da economia do Brasil quanto dos EUA e políticas industriais americanas que devem gerar maior atividade industrial e da construção civil.

Ele lembra ainda que em 2024 as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos completam 200 anos, o que pode dar um impulso adicional às relações entre os dois países, assim como a presidência do Brasil no G20.

O resultado das trocas com os Estados Unidos, centradas em bens industriais, diz Abrão Neto, coloca em evidência a importância do comércio bilateral em contexto em que o Brasil tem discutido a renovação industrial, o aumento da participação de manufaturados na pauta exportadora e também a atração de mais investimentos produtivos. A rivalidade entre Estados Unidos e China, diz o executivo, é algo que continuará latente no cenário internacional por muito tempo, embora tenha se estabilizado recentemente, e pode influenciar na relação entre Brasil e Estados Unidos. “A busca dos Estados Unidos por diversificação de fornecedores e por parceiros confiáveis, para redução de riscos de diversas naturezas, inclusive geopolíticos, pode trazer oportunidades para o Brasil.”

O levantamento da Amcham também mostra que as importações brasileiras de produtos americanos caíram fortemente em 2023, com queda de 26% ante o ano anterior, totalizando US$ 38 bilhões no ano passado. Como resultado, a corrente de comércio, dada pela soma das exportações e importações, caiu 15,7% em 2023.

A redução nos desembarques, diz Abrão Neto, foi concentrada. Ele destaca que da redução de US$ 13,3 bilhões nas compras externas em bens americanos, US$ 12,3 bilhões vieram de petróleo bruto, combustíveis e gás natural. O último item, lembra, tem base alta de comparação, porque a importação brasileira de gás natural aumentou em 2021 e 2022 em razão da crise hídrica e consequente acionamento da geração de energia por termelétricas. Já a queda em petróleo e combustíveis reflete, além de redução de cotações, mudanças ainda em curso das rotas do comércio internacional desses produtos, em razão do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Fonte: Valor Econômico

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