Novo CEO da Brasil Terminal Portuário fala sobre sua trajetória no setor, os desafios da operação em Santos, metas de sustentabilidade e o papel do porto no desenvolvimento da cidade

“Quando cheguei, a BTP tinha apenas um ano e três meses de operação. Havia muito a ser feito. A empresa estava em desenvolvimento”, afirma Cláudio.

Claudio Oliveira assumiu, em fevereiro deste ano, o cargo de CEO na Brasil Terminal Portuário (BTP), no Porto de Santos, após uma sólida trajetória na empresa, onde atuava há dez anos como diretor Comercial e Marketing. Acumulou ainda passagens pelas áreas de comunicação, marketing corporativo e relações institucionais da empresa.

m 59 anos de idade e uma carreira que soma mais de 40 anos no setor portuário — iniciada aos 18 anos como visitador de navios — Oliveira passou por companhias de renome internacional como Sealand e Hapag-Lloyd, além de atuar por mais de uma década fora do País, com experiências em Miami, nos Estados Unidos, e na Costa Rica.

Nascido em Santos, é bacharel em Administração de Empresas, com MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e tem formação de Conselheiro de Administração pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Na entrevista a seguir, ele fala sobre sua trajetória profissional, os desafios da BTP, investimentos em inovação e sustentabilidade e o futuro do Porto de Santos.

Você começou a trabalhar muito cedo. Como foi o início da sua trajetória profissional?
Comecei aos 13 anos, depois de tanto insistir com meu pai para trabalhar. Ele não queria, mas acabei convencendo. Meu primeiro emprego foi em uma escola de inglês tradicional em Santos. Lá, eu trabalhava meio período, ajudando no departamento de cursos, a distribuir material para os professores e outras atividades. Graças a essa experiência, eu tive a oportunidade de estudar o inglês lá.

E como o inglês te levou ao setor portuário?
Eu estava com 18 anos, tinha acabado de ingressar na Faculdade de Educação Física, para você ver como a vida vai nos levando a outros caminhos. As aulas começaram em fevereiro e em abril recebi um convite para ser visitador de navios em uma agência, pelo simples fato de eu ter conhecimento do inglês. Isso me abriu as portas para o setor de navegação.

Fiquei como operador de telex, até sair a minha credencial para que eu pudesse ingressar no cais. Depois passei para visitador de navios e fui avançando para a área operacional, tive oportunidade na área comercial, marketing, desenvolvimento de negócios. Eu sempre digo que só tenho que agradecer. A oportunidade de passar por diversas áreas acabou construindo uma base bem sólida para que eu pudesse avançar na carreira.

Você também teve uma experiência internacional. Como foi esse período?
Em 2003 eu fui transferido para a Costa Rica, quando eu trabalhava na CP Ships, para ser diretor de serviços para toda a América Central. Fiquei três anos e meio. Depois, voltei ao Brasil e fui convidado por uma empresa para abrir o escritório e armazém em Miami (Estados Unidos), era um agente de carga. Foram sete anos e meio lá, até retornar em 2015 para a BTP.

“Todos na BTP são comerciais — do recepcionista ao operador de guindaste. Todos ajudam a vender a imagem da empresa”, diz.

E o que te motivou a permanecer na BTP e hoje estar na liderança da empresa?

A oportunidade de fazer a diferença. Quando cheguei, a BTP tinha apenas um ano e três meses de operação. Havia muito a ser feito. A empresa estava em desenvolvimento e pude colocar um pouco do “Claudio” nessa construção.

Quais são suas principais metas como CEO da BTP?
O mais importante é manter o bom ambiente que temos na empresa, valorizando as pessoas, porque são elas que movem tudo isso. Temos que nos preocupar muito com o lado humano, desenvolvimento, capacitação. A BTP tem acordos com universidades e empresas que fazem cursos de capacitação, para sempre dar oportunidades aos nossos colaboradores. Isso tudo beneficia não só a empresa, mas a carreira dos próprios profissionais.

Na sua opinião, o que mudou na área portuária ao longo desses anos?
A tecnologia é muito forte. Antigamente, quando comecei, era tudo feito no papel. Hoje temos equipamentos modernos, a produtividade aumentou em todos os setores, não só contêineres. E toda a capacitação dos profissionais para acompanhar essa transformação.

Como fortalecer a relação entre porto e cidade?
Temos que mudar a imagem que a cidade tem do Porto. Ainda existe a imagem de que o Porto é sujeira, é bagunça, contrabando, só coisa ruim. Não é. É um mercado de trabalho muito interessante para a nova geração. Temos em Santos cinco, seis universidades, e formamos profissionais para exportar para outras cidades. Nosso slogan é inovar e acreditar. Acreditamos muito nessa inovação, cada vez está mais presente a tecnologia e precisaremos de profissionais qualificados.

Como mudar essa visão dos moradores da região?
Participando ativamente. A BTP já nasceu com esse DNA. Quando resolvemos fazer um terminal de primeiro mundo em uma área que era super contaminada, também assumimos uma responsabilidade de desenvolvimento da região, começando pela remediação daquela área degradada, implantando um terminal moderno que emprega hoje 1,8 mil colaboradores diretos e cerca de 5 mil indiretos.

E depois, com projetos sociais, responsabilidade social. Apoiamos hoje 22 projetos sociais dentro dos nossos pilares: educação, saúde, cultura e esporte. Em acordo com a Prefeitura construímos a Policlínica da Vila Gilda e o Centro de Convivência do Rádio Clube. E ainda faremos a revitalização do Armazém 3 do Parque Valongo. A BTP não faz ação social para ter a imagem reconhecida. Faz pela satisfação de ajudar no desenvolvimento da região.

E como está a atuação da BTP no campo da sustentabilidade e inovação?
Temos um compromisso agressivo de sermos carbono zero em 2030. Estamos trocando toda a frota de RTGs, que são os guindastes de pátio, para modelos elétricos. Os carros internos nossos também vamos trocar todos para elétricos. Vamos automatizar todos os gates e os novos equipamentos já terão a capacidade de operar de forma remota. Fomos o primeiro terminal do Brasil com uma linha 5G própria, interna.

Qual a capacidade da BTP?
A capacidade operacional é de 1,5 milhão de TEU (unidade de medida de um contêiner), que é entre 70 e 80% da capacidade total, que é de 2 milhões de TEU. Mas estamos operando há 3 anos com 1,9 milhão. De forma estressada, com risco de perder a eficiência, por isso brigamos tanto pela ampliação de capacidade no Porto de Santos.

E não é só demanda da BTP, que provavelmente nem vai concorrer no Tecon Santos 10. Mas Santos precisa de capacidade, ou vai colapsar, no mais tardar em 2027. A BTP está investindo R$ 2 bilhões na ampliação da sua capacidade para tentar ajudar.

Estamos atrasados…
Muito atrasados. Precisamos começar a pensar a longo prazo. Não dá para mudar de plano a cada quatro anos, quando muda o governo. E não é só capacidade operacional, mas de acesso rodoviário, ferroviário e aquaviário.

A BTP tem uma cultura de atendimento e foco no cliente. Como isso funciona?               
Nossa filosofia é que todos na BTP são comerciais — do recepcionista ao operador de guindaste — todos ajudam a vender a imagem da empresa.

E qual seria sua principal mensagem para quem quer ingressar no setor portuário hoje?
Primeiro, tem que querer. Não deixe ninguém dizer que você não pode fazer alguma coisa. Você pode tudo, mas ninguém vai fazer por você. O setor portuário tem muito a ensinar, mas depende da sua vontade de crescer. Você vai ter a oportunidade, vá em frente.

Fonte: Datamarnews