O eventual retorno do republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos aumenta a pressão de baixa sobre as cotações internacionais de soja e milho, que já estão no menor patamar em quatro anos. A razão é que a volta de Trump pode recrudescer a guerra comercial dos EUA com a China, afetando a demanda pelos grãos produzidos pelos americanos, segundo analistas.
Neste ano, a soja já caiu 20,11% na bolsa de Chicago, e o milho recuou 18,23%, de acordo com levantamento do Valor Data. A retração é reflexo, sobretudo, da perspectiva de oferta elevada de ambas as commodities nos Estados Unidos na safra 2024/25.
Agora, com a possível volta de Trump à Casa Branca — já que ele se fortaleceu ante o eleitorado após o atentado de sábado —, a expectativa dos analistas é de que as cotações se depreciem ainda mais.
“Os preços de milho e soja podem cair ainda mais caso ele [Trump] volte à Casa Branca, por causa da expectativa de uma nova ‘trade war’ entre EUA e China. Uma guerra comercial entre os dois países seria prejudicial à soja americana. Além disso, Trump também fez críticas ao México, e isso pode abalar as vendas do cereal dos EUA para aquele país”, afirma Ronaldo Fernandes, analista da Royal Rural.
Em abril de 2018, o então presidente Donald Trump impôs tarifas de 25% na importação de produtos chineses, um dia após Pequim determinar restrições a produtos americanos. Na ocasião, o Brasil beneficiou-se da disputa comercial e preencheu a lacuna deixada pelos americanos nas exportações de soja à China. Isso pode acontecer novamente caso Trump saia vitorioso na eleição e reforce a guerra comercial com o país asiático, avalia Luiz Fernando Gutierrez, analista da Safras & Mercado.
“A demanda chinesa por soja do Brasil aumentou muito, e o Brasil bateu recorde de exportação na época da primeira guerra comercial. Teoricamente, se estourar uma nova disputa, o Brasil pode se beneficiar mais uma vez, pois se houver soja sobrando por aqui, a China virá comprar”, observa. Segundo ele, em 2018, o Brasil exportou 83,3 milhões de toneladas de soja, 22% a mais que no ano anterior.
Para Marcela Marini, analista de grãos e oleaginosas do Rabobank, a chance de o republicano voltar ao comando da maior economia do mundo ainda não foi precificada pelos investidores em Chicago.
“A participação das exportações dos EUA para China são muito menores que há cinco anos. Talvez como consequência do que aconteceu no passado. A China tem reduzido o ritmo de compras de soja americana, ao passo que vem elevando as aquisições do Brasil e também da Argentina”, observa Marini.
O gráfico abaixo mostra o volume de exportação de soja do Brasil entre janeiro de 2021 e maio de 2024, segundo dados do DataLiner.
Volume de Exportação de Soja | Jan 2021 – Maio 2024 | WTMT
Expectativa de produção
Mas independentemente do resultado da eleição nos EUA, por ora, a tendência de queda dos preços já é uma realidade devido às perspectivas para a produção. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê uma safra de 120,70 milhões de toneladas de soja nos EUA no ciclo 2024/25, alta de 6,5% em relação à temporada anterior. Para os estoques finais, o órgão prevê crescimento de 26,1%, com 11,85 milhões de toneladas.
No caso do milho, a expectativa é de queda de 1,5% na colheita, para 383,56 milhões de toneladas, após uma safra recorde, e estoques de 53,26 milhões de toneladas, ou 11,7% maiores.
“Há uma razão bem fundamentada para o cenário atual dos preços. O relatório de estoques trimestral do USDA trouxe aumento de 22% nas reservas de soja e milho do país em relação ao ano passado, com volume acima da média dos últimos dez anos. Por isso temos preços tão deprimidos”, diz Felipe Kotinda, economista do Santander.
Ainda na avaliação do especialista, após picos na cotação da soja e do milho, seria natural os preços passarem por correções neste momento. Em 2022, a soja chegou à máxima de US$ 15 o bushel, e o milho a US$ 8 o bushel, reflexo da pandemia de covid-19.
Para os analistas, pode haver uma reversão de tendência se o fenômeno climático La Niña ou a temporada de furacões afetar negativamente a produção americana. Ou se irregularidades climáticas impactarem o plantio da safra 2024/25 no Brasil em setembro.
Fonte: Globo Rural
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