O número diário de caminhões rumo ao Porto de Santos poderá aumentar até 145% com a implantação da nova pista da Rodovia dos Imigrantes e do Terminal de Contêineres Santos 10, no cais do Saboó (STS10). O total poderia passar dos atuais 12 mil para 29,4 mil por dia.

A conta feita por A Tribuna considera a média de 12 mil caminhões por dia que descem a Serra hoje com destino aos terminais do Porto. Com a terceira pista da Imigrantes, a concessionária Ecovias afirma que a capacidade aumentará em 145% para esses veículos. Só o Tecon Santos 10, em sua plena implantação, deverá receber 5 mil caminhões por dia.

Confira a seguir um histórico da movimentação de cargas no Porto de Santos a patir de janeiro de 2022. O gráfico foi elaborado com dados do DataLiner:

Movimentação de contêineres no Porto de Santos | Jan 2022 – Abril 2025 | TEUs

Especialistas alertam para a necessidade de obras complementares nos acessos urbanos a fim de se evitar um colapso logístico.

Segundo a Ecovias, que está desenvolvendo os projetos básico e executivo da nova ligação Planalto – Baixada Santista, o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) terá uma capacidade maior de absorver a demanda que já existe, podendo melhorar as condições de trânsito em momentos de alto fluxo. “Além disso, o sistema ganha fôlego para absorver o aumento de demanda futura”, diz, em nota.

A companhia também esclarece que o projeto da terceira pista contempla “melhorias nas vias de conexão e se integra a outros projetos em desenvolvimento que aumentam a capacidade na região, como o segundo acesso à Margem Direita do Porto de Santos, no km 65 da Via Anchieta; e o novo viaduto de saída do bairro Alemoa para a Anchieta no km 62”.

Especialistas
O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), Mario Povia, afirma que o ideal é q ue os cronogramas de investimentos em infraestrutura previstos sejam concluídos para dar solução e evitar novos gargalos. “Assim poderemos mitigar os efeitos da demanda futura que se avizinha no cluster santista”.

Povia acrescenta que os investimentos na Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips) e ampliações dos terminais da Santos Brasil, BTP e DP World resultarão em ampliação de capacidade. “Além disso, a absorção de novas tecnologias por arrendatários e autoridades anuentes como Receita Federal, Anvisa e Vigiagro tendem a tornar a dinâmica do comércio exterior mais célere, diminuindo o tempo de permanência das cargas nas dependências dos terminais”.

O coordenador de Engenharia e Arquitetura da ESAMC, Alessandro Lopes, afirma que o túnel imerso Santos-Guarujá e a terceira pista são fundamentais ao desenvolvimento logístico da região, mas devem ser acompanhadas de um redesenho viário e urbano.

“O aumento de capacidade de movimentação portuária e fluidez entre as margens atrai mais veículos, especialmente caminhões, e sem planejamento vamos apenas deslocar o problema de lugar, de filas nos acessos rodoviários, congestionamento dentro das cidades e trânsito insuportável em alguns trechos que já estão caóticos. Então, repensar essa chegada seria o ideal e o mais assertivo”, complementou.

Consultor em transporte e logística no setor portuário, Ivam Jardim salienta que é fundamental que o túnel, o Tecon 10 e a terceira pista da Imigrantes saiam do papel de forma coordenada, com planejamento integrado e acompanhadas de intervenções complementares nos acessos urbanos e portuários para evitar o agravamento dos gargalos logísticos existentes.

“É urgente implementar a nova entrada de Santos em direção à Perimetral e do viário planejado para a região do Saboó”.

Alerta
Consultor em transporte e logística no setor portuário, Ivam Jardim afirma que a nova entrada de Santos em direção à Perimetral e do viário planejado para a região do Saboó será essencial ao ordenamento do tráfego de veículos de carga e de passageiros. “Essa nova via dará acesso direto ao futuro terminal de passageiros e ao Tecon Santos 10, desafogando a atual malha, que possui um cruzamento rodoferroviário, possibilitando uma operação mais segura e eficiente”, destaca. Quanto à terceira pista, Jardim afirma que é uma solução relevante ao escoamento de caminhões na descida da Serra. “Mas sem melhorias nos acessos portuários da Margem Direita, especialmente nas vias de penetração urbana de Santos, essa ampliação não resolverá os estrangulamentos logísticos na chegada ao Porto”. Sobre o túnel, o especialista disse que a obra impactará positivamente ao desafogar a Ponta da Praia, onde a convivência entre balsas e navios já exige coordenação delicada para garantir segurança e fluidez. “Mais do que nunca é preciso enxergar essas obras como partes de um sistema integrado, que requer planejamento complementar em infraestrutura viária urbana, sinalização, gestão de tráfego e investimentos nos acessos diretos ao Porto, sob pena de comprometer o potencial logístico que essas grandes obras podem oferecer”, conclui Jardim.

Guarujá deve ter remodelação viária
A cidade de Guarujá poderá ser contemplada com a remodelação da entrada e uma terceira pista da Rodovia Cônego Domenico Rangoni. Os projetos estão em desenvolvimento e farão conexão com a futura ligação Planalto-Baixada Santista da Rodovia dos Imigrantes.

“Há uma discussão com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a respeito dos novos acessos em relação à terceira pista da Imigrantes, inclusive, a possibilidade de uma terceira pista da Cônego. Paralelamente, está sendo desenvolvido um projeto para uma nova entrada da cidade”, afirmou o prefeito de Guarujá, Farid Madi (Pode), em nota.

“Todos os projetos de mobilidade urbana estão sendo discutidos e encaminhados à Autoridade Portuária de Santos (APS) e ao Governo do Estado, concomitantemente com a licitação do novo porto”, complementou Farid, citando ainda que a APS já autorizou a construção da nova Avenida Perimetral, com acesso direto pela Rodovia Cônego, reduzindo os impactos”.

Santos
Já o secretário de Assuntos Portuários e Emprego de Santos, Bruno Orlandi, lembrou das obras iniciadas na área da Alemoa Industrial como a remodelação do entorno do viaduto da Alemoa, que dá acesso à Avenida Engenheiro Augusto Barata (Retão da Alemoa) e a construção de dois novos viadutos, o de saída e um segundo, contemplado no projeto da Ferrovia Interna do Porto de Santos (Fips).

Contudo, Orlandi destacou: “Já enfrentamos gargalos significativos nos acessos e sem contrapartidas viárias há o risco de agravar a mobilidade e afetar diretamente a rotina da população, dos trabalhadores e da logística do próprio Porto”.

Para ele, obras como a terceira via da Imigrantes devem comportar “investimentos em infraestrutura, como melhorias nas vias de ligação com o SAI e a criação de pátios adequados para a espera de caminhões”.

Orlandi frisou ainda que “é fundamental” construir “um novo acesso ao Porto antes da entrada em operação do Tecon Santos 10. É um tema que o prefeito Rogério Santos (Republicanos) tem levado com firmeza a Brasília, junto com o deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), reforçando a importância de preparar a cidade para esse novo momento logístico”, salientou.

Caminhoneiros pedem novos estacionamentos
O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Luciano Carvalho, afirma não ter certeza se o túnel Santos-Guarujá vai realmente receber caminhões. Isso nós vamos discutir com o governador”.

Carvalho disse que o Tecon Santos 10 é importante, porém é preciso estudos para não impactar ainda mais o trânsito na entrada de Santos. Sobre a terceira pista da Imigrantes, o sindicalista frisou que, para evitar um colapso logístico, “é importante termos um pátio regulador em São Bernardo e outro em Cubatão, para que não desça caminhões sem controle e acabem travando ainda mais a nossa Baixada”.

O diretor do Sindicam, Romero Costa, diz que a nova pista da Imigrantes será viável se houver estacionamento na Baixada Santista para os caminhões. “Seria ideal ter um no final da terceira via (Cônego), onde seria feita a triagem para só depois liberar o caminhão para o Porto”.

“Sem um pátio com vagas para mais de 1 mil caminhões e sem um plano de agendamento adequado, integrado com a Autoridade Portuária, será um caos na Baixada”, alertou.

Outro recurso indispensável, segundo Romero, é um viaduto na Alemoa. “Sem um viaduto que caia na Via Anchieta, vai travar todo o trânsito naquela região da Alemoa, para o pessoal que vem de Cubatão e na Entrada de Santos”.

Já a presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan), Rose Fassina, disse que a instituição apoia o túnel e o Tecon 10, mas pontuou que “a cada dia são apresentadas dificuldades para a implemen-tação dos projetos”.

“Sobre qual modalidade o transportador adotará para o acesso ao Guarujá, eu arrisco dizer que ele é cético em relação à construção do túnel. São muitos anos de espera”.

Fonte: Datamarnews