As polêmicas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou os ataques israelenses à Faixa de Gaza ao Holocausto, criaram ruído na política externa brasileira e levaram a uma escalada diplomática na relação entre Brasil e Israel, na visão de especialistas ouvidos pelo Valor. Já os exportadores brasileiros acenderam o sinal de alerta após as declarações de Lula, embora a avaliação seja de que o pragmatismo no comércio entre os dois países possa prevalecer.

Na segunda-feira (19), o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi convocado por autoridades israelenses para dar explicações sobre as falas de Lula. Horas depois, o governo brasileiro decidiu chamar Meyer para consultas. No Rio, onde está para a reunião do G20, o chanceler Mauro Vieira convocou, por sua vez, o embaixador israelense, Daniel Zonshine, para uma reunião no Palácio Itamaraty, no centro da cidade. O encontro durou cerca de uma hora e meia e Zonshine deixou a reunião sem falar com a imprensa.

A crise diplomática também se dá em meio aos preparativos para a primeira reunião no âmbito ministerial do G20 sob presidência brasileira. O encontro de chanceleres do grupo, que reúne 20 grandes economias do mundo, está programado para quarta-feira (21) e quinta (22), no Rio. Israel não integra o G20, mas para o professor, o embate pode ofuscar as discussões da cúpula.

No Brasil, o incidente preocupa setores exportadores. Dados da plataforma governamental ComexStat mostram que o Brasil exportou US$ 662 milhões em produtos para Israel em 2023. Os cinco itens principais são óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos (US$ 139 milhões) carne bovina (US$ 127 milhões), soja (US$ 121 milhões), farelo de soja (US$ 63 milhões) e milho (US$ 38 milhões). “São três navios de milho e três de soja no ano inteiro. Em termos de volume, é pouco, mas qualquer mal-entendido que afete a área comercial traz preocupação”, afirma uma fonte com trânsito entre exportadores de grãos.

Em nota, o presidente da Câmara Brasil-Israel (BRIL Chamber), Renato Ochman, afirma que a organização está atuando para manter as relações bilaterais e afastar as questões políticas. Mas “a repercussão da declaração do presidente pode afetar a importação de tecnologia de Israel, em setores prioritários, como medicina, segurança e proteção de inteligência”, avalia. O Brasil importou US$ 1,35 bilhão em produtos israelenses, sendo os dois principais itens insumos para o agronegócio: fertilizantes (US$ 608 milhões) e defensivos agrícolas (US$ 144 milhões).

O gráfico a seguir compara as exportações e importações de contêineres entre Brasil e Israel de janeiro de 2022 a dezembro de 2023. Os dados são do DataLiner.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, afirma, porém, que o incidente deve ter baixo impacto nas relações bilaterais. A atenção maior é a médio prazo, já que as exportações são mantidas com licenças e certificados concedidos pelo governo de Israel. “Embora isso acabe esfriando as relações diplomáticas, Brasil e Israel têm certa estabilidade por conta do acordo do Mercosul”, afirma.

Fonte: Valor Econômico

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