Restruturação feita no lockdown ainda impacta nos preços; negócios com países asiáticos são os mais caros para empresas brasileiras

A escassez no volume de contêineres é um dos principais motivos para o aumento dos fretes de importação para o Brasil. O movimento de aumento dos preços teve início pouco antes do começo da pandemia, em março de 2020, se agravando com o lockdown, que provocou o fechamento das fronteiras e comércios.

De acordo com dados levantados pela Kestraa, startup especializada na gestão e monitoramento de cargas do comércio exterior, a mediana do frete da Ásia, um dos principais importadores do Brasil, foi de US$ 1,9 mil, em janeiro de 2020, para US$ 9,8 mil no mesmo mês de 2022, elevação de 416%.

Metodologia do cálculo

O cálculo foi feito com base nas medianas de preços envolvendo mais de 12 mil cargas transportadas entre Brasil e outros países desde 2020. A metodologia exclui transações muito mais caras e muito mais baixas do que a média, para evitar discrepâncias.

Ainda no comparativo entre os anos de 2020 e 2022, a mediana do preço do frete global para o Brasil saiu de US$ 1,6 mil para US$ 2,6 mil, um aumento de 67%.

“Uma quantidade significativa de contêineres foi retirada do mercado para uma reestruturação necessária ao período de isolamento. No entanto, mesmo após a reabertura, esse número permaneceu reduzido, aumentando a demanda por mais rotas e equipamentos, o que contrasta com a redução de ofertas, elevando os preços”, explica o sócio fundador da Kestraa, Marcelo Matos.

Diferença entre o frete global e o da Ásia

Setor primário é o mais afetado pelo aumento nos preços

“Os setores de baixo valor agregado são os que mais sofrem com os valores. Como têm produtos sensíveis a preço e têm um impacto maior na conta final, eles acabam sendo os mais afetados. O varejo é muito impactado, mas não por causa do frete em específico, e sim devido à forma de comércio”, explica Matos.

A indústria e empresas de componentes eletrônicos também são afetadas, porque são companhias que precisam de mercadorias internacionais. Objetos que vêm da Ásia sofrem muito com isso porque, embora a China consiga ter uma indústria eficiente em custos, são produtos com baixo valor agregado.

Nos últimos anos as vendas pela internet tiveram uma evolução considerável, o que se intensificou durante a pandemia. De acordo com dados da Webshoppers 45, relatório realizado pela NIQ Ebit em parceria com a Bexs Pay, o setor de vendas online bateu o recorde de faturamento em 2021, apresentando um lucro de R$ 82,7 bilhões, crescimento de 27%. O período de maior alta foi de janeiro a abril, destacando-se o mês de março, quando a elevação em comparação com 2020 foi de 75%.

“Com a alta do consumo pela internet vemos muito mais empresas fazendo operações internacionais. Isso não é só no Brasil, mas também na Europa e em outros continentes. O mercado web tem consumido muito: a Amazon, por exemplo, tem um movimento de construir a logística própria como forma de diminuir custos”, ressalta.

Tentando segurar os preços, agentes de cargas buscam trazer tecnologias para agilizar e baratear o processo de importação e exportação. No entanto, Marcelo explica que esse é um custo que está nas mãos das empresas montadoras, proprietárias dos navios, e que soluções serão possíveis a partir do interesse do mercado.

“Devido aos diferentes processos de transportes, as indústrias estão montando as mercadorias cada vez mais de uma forma acabada, estão se adaptando a isso. Tem a mudança na forma de consumo, a escassez de contêineres e uma nova forma de logística internacional. As empresas vão buscar alternativas de logística para fazer a importação”, finaliza.

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